quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Artigo sobre fotografia - White Balance

Voltamos com mais um artigo sobre fotografia.
Desta vez Gerhard Waller nos traz um excelente artigo sobre White Balance.


Gerhard Waller é veterinário por formação,
engenheiro mecânico por profissão
e fotógrafo por paixão.
http://www.flickr.com/photos/gwaller/


Entendendo o balanço de branco - White Balance (WB)

A percepção das cores de um objeto muda de acordo com o tipo luz que o ilumina. Isso é fácil de se perceber quando estamos dirigindo a noite nas ruas iluminadas com lâmpadas de mercúrio (aquelas que tem um tom branco azulado) e mudamos para uma outra rua com lâmpadas de sódio (cor amarelada). Nosso cérebro se adapta (até certo ponto) às diferentes cores de luz mas quando há uma mudança brusca percebemos com mais facilidade essa diferença da cor da luz.
Na fotografia colorida essa mudança de tipo de luz e ainda mais perceptível gerando muitas vezes efeitos bastante desagradáveis. Ao fotografarmos uma superfície branca iluminada com uma fonte de luz azulada essa superfície aparecerá azulada, se a fonte for alaranjada, a superfície aparecerá alaranjada, e assim sucessivamente dependendo da cor da luz, porém muitas vezes é do nosso interesse que uma superfície branca apareça nas fotos sempre branca independente da fonte de luz. Para que isso seja possível existe nas câmeras digitais um ajuste do tipo de luz que está iluminando a cena, o balanço de branco ou white balance (WB), em inglês.

Para entendermos melhor como funciona o balanço de branco precisamos entender a escala da temperatura luz.
Imaginemos um pedaço de ferro sendo aquecido gradativamente. No começo não percebemos nenhuma mudança na sua cor porém na medida que ele vai ficando mais quente ele começa a ficar avermelhado, e nesse ponto começa a emitir luz. Se continuarmos o seu aquecimento ele passa a ser laranja, amarelo, esverdeado e azul. Se associarmos cada temperatura do ferro aquecido com a cor da luz que ele emite teremos o que chamamos de temperatura da luz e essa temperatura é a que será usada como referência na câmera para fazermos o ajuste do balanço de branco. Essa temperatura é dada em Kelvin ou temperatura absoluta (0K = -273oC), conforme a figura 1.



Figura 1: Escala de cores em Kelvin. Fonte: www.fazendovideo.com.br



Prestando atenção na escala da figura 1 você deve estar se perguntando por que a temperatura do vermelho é a mais baixa e a do azul é a mais alta pois você aprendeu que o azul é uma cor fria e o vermelho é uma cor quente? Isso de fato pode gerar confusão pois são dois conceitos diferentes: um artístico e um físico. Em arte o vermelho é uma cor quente por nos lembrar coisas quentes como o fogo e o azul ao contrário nos lembra coisas frias como o amanhecer na neve.
Cada tipo de luz diferente terá uma temperatura diferente, desde temperaturas mais altas como as lâmpadas fluorescentes até as mais baixas como lâmpadas incandescentes, a lâmpada de filamento mais tradicional, conforme a tabela 1:




Tabela 1: Temperatura de diversos tipos de luz. Fonte: www.fazendovideo.com.br




Obviamente não precisamos decorar essa ou outras tabelas com as diferentes temperaturas da luz mas é importante termos sempre em mente que luzes avermelhadas terão uma temperatura mais baixa e as azuladas mais alta.

A temperatura da luz na prática: ajustando o balanço de branco.

Quando fotografamos usando filme precisamos saber o tipo de luz que iremos fotografar e baseado nisso escolhermos o tipo de filme a ser usado. Existe basicamente dois tipos de filmes, um para luz do dia e outro para lâmpada incandescente, os demais tipos de luz serão corrigidos a partir de filtros inseridos na parte frontal da lente da câmera.
Na fotografia digital o ajuste ficou mais flexivel e de acordo com o tipo de luz que iremos usar a câmera pode ser rapidamente ajustada, sem a necessidade de se usar filtros fotográficos. As câmeras fazem esse ajustes automaticamente porém em muitas câmeras esse ajuste também pode ser feito de forma manual, ou seja, você define o tipo de luz para qual a câmera será configurada. Isso parece um contracenso pois se a câmera pode fazer esse ajuste automaticamente por que perder tempo ajustando de forma manual? Porque por mais preciso que seja esse sistema não existe nenhuma câmera em que o balanço de branco automático funcione com total precisão, mesmo as profissionais top de linha, aliás, esse é o calcanhar de Aquiles de muitos modelos profissionais e semiprofissionais. Outra razão para usarmos o ajuste manual é que podemos escolher o tipo de luz para criarmos um clima diferente na foto ou mesmo para acentuar determinadas tonalidades de cor. Esse ajuste manual pode ser acessado através do menu de ajustes da câmera ou mesmo através de uma tecla de atalha no corpo da câmera para facilitar e agilizar esse ajuste.
Em geral temos as seguintes opções no menu de ajuste manual da câmera: Automático (Auto), Luz do sol (Daylight), Nublado (Cloudy), Incandescente (Tungsten), Fluorescente (Fluorescen), podendo ter também em modelos mais avançados Sombra (Shade), Flash e predefinido. Lembro que cada câmera terá sua própria configuração, consulte o manual da mesma para saber as opções disponiveis e como efetuar seus ajustes.
Analisaremos a seguir cada ítem:

Luz do sol (Daylight, Sunlight, Sunny)

Essa é a opção para dias de sol para fotos externas onde a luz do sol é a principal fonte de luz. Essa opção também pode ser usada nas câmeras aonde não existe a opção Flash.

Nublado (Cloudy)

Use essa opção para dias nublados ou para sombras, quando a câmera não tiver essa opção. Essa opção pode ser também usada quando desejarmos tons mais quentes sob a luz do sol.

Incandescente (Tungsten)

Essa é a opção de escolha quando nossa principal fonte de luz é a lâmpada incandescente ou lâmpada doméstica comum.

Fluorescente (Fluorescent)

Use essa opção quando a fonte de luz é a lâmpada fluerescente, tanto as de tubo quanto as lâmpadas econômicas usadas no lugar das incandescentes. Algumas câmeras também oferecem a opção de escolha do tipo de lâmpada fluorescente: luz do dia, branca fria, etc.

Sombra (Shade)

Use essa opção quando você o tema fotografado encontra-se na sombra ao ar livre. Pode ser usado em substituição ao modo nublado (Cloudy).

Flash

Essa opção é selecionada quando usamos o flash. Na ausência dessa opção pode-se usar a opção luz do sol (dayight).

Customizado (Custom)

Nessa opção é possivel selecionar a temperatuda da cor em Kelvin. É opção é particularmente util quando conhecemos a temperatuda da fonte de luz e ao fazermos esse ajuste conseguimos configurar com precisão a câmera. Geralmente usamos essa opção em estúdio ou mesmo quando usamos uma tabela de temperatura de luz, como a tabela 1.

Preset

Essa opção é que as pessoas chamam de “bater o branco”. Existem situações onde nenhuma das configurações apresenta um resultado satisfatório e não temos idéia da temperatura da luz e nem temos tempo (ou paciência) de ficarmos testando várias temperaturas no modo customizado. Nessas situações podemos lançar mão de um recurso disponivel em câmeras mais avançadas, o chamado “bater o branco”, onde usamos uma superfície plana branca pura e informamos a câmera que esse será a referência de branco e com isso a câmera ajusta automaticamente a temperatura da luz. Em fotos cotidianas (não profissionais) e num momento onde não temos muitos recursos podemos usar uma folha de papel branco como referência ou mesmo alguém com uma camiseta branca, o resultado não será perfeito mas com certeza será melhor que qualquer adivinhação.

Automático (Auto)

Essa é a configuração padrão de fábrica das câmeras. Nessa configuração a câmera mede a temperatura luz e define automaticamente o tipo de configuração do balanço de branco. Na maioria das vezes, nas boas câmeras, esse ajuste é efetuado de forma satisfatória mas em algumas situações o resultado é bem frustrante. Na minha opinião aonde a câmera mais se perde nesse ajuste automático é quando fotografamos um assunto na sombra e em algumas situações em dias nublados. A câmera se autoajusta para luz do sol (Daylight) quando deveria ser para sombra (Shade) ou mesmo nublado (Cloudy) e o resultado são tons errados de cor, principalmente o verde de vegetação, marrom da terra e tons de pele. Observe nas fotos 1 e 2 essa diferença. Na foto 1 a foto foi tirada no modo automático (Auto) e na foto 2 no modo sombra (Shade). Na foto 1 a câmera se autoajustou para o modo luz do sol (Daylight) causando uma tonalidade errada.





Foto 1 - Motivo na sombra com o balanço de branco automático



Foto 2 - Motivo na sombra com o balanço de branco ajustado para sombra

Podemos observar que os tons da foto 1 tende para o azul enquanto a foto 2 apresenta tons mais reais.

O que fazer quando as coisas dão errado

Haverá situações onde no fim do dia vamos ver as fotos que tiramos e após baixarmos as mesmas para o computador percebemos que muitas das fotos que tiramos estão com o balanço de branco errado ou por erro da câmera ou por nosso erro ao configurarmos ela de forma errada. Apesar da grande frustação que isso causa é possivel corrigir esse problema de forma satísfatória. Programas de edição de fotos como Photoshop e Lightroom, ambos da Adobe, Photo Paint da Corel ou mesmo o GIMP (Gnu Image Manipulation Program) têm recursos de correção de cores que conseguem corrigir esse problema. Entre os programas de edição de fotos o Lightroom é um dos que faz essa correção de forma mais simples e rápida, e o destaque do GIMP é o fato dele ser gratuito (www.gimp.org).
Caso você não tenha paciência, tempo e nem conhecimento para fazer esse tipo de correção, na maioria das lojas que fazem a impressão das fotos digitais o computador que gerencia as impressões pode fazer essa correçao automaticamente porém por ser um processo automatizado e fora do nosso controle nem sempre o resultado é do jeito que esperamos.
Uma forma de evitar esse tipo de problema é escolhermos o formato de arquivo RAW (quando disponível na câmera) pois podemos mudar o balanço de branco da forma que quisermos após a fotografia ser tirada. O formato de arquivo RAW será melhor esplorado em um futuro artigo.

Usando o “erro” do balanço de branco ao nosso favor

Apesar do ideal ser o balanço de branco estar configurado de acordo com a fonte de luz muitas vezes podemos ajustá-lo de forma diferente para conseguirmos efeitos interessantes nas nossas fotografias como esquentar ou esfriar os tons de uma cena, mudar o tom de cores ou mesmo mudarmos a cor de pontos de luz.
Como exemplo dessa mudança podemos observar as fotos 3 à 9. Na foto 3 a foto foi tirada usando-se o balanço de branco automático da câmera. Na foto 4 os tons estão um pouco mais quentes devido ao ajuste em luz do sol. Conseguimos esquentar ainda mais os tons ao ajustar o balanço de branco para dia nublado e mais ainda para sombra, como verificamos nas fotos 5 e 6, consecutivamente. Na foto 7 os tons estão bem frios pois a câmera foi ajustada para lâmpada incandescente e como esse tipo de lâmpada emite uma luz mais amarelada a câmera “entende” que precisa esfriar mais as cores para compensar essa tonalidade amarela deixando a foto com cores mais naturais, ou seja, o céu mais azul e o sol mais branco. Apesar de teoricamente esse balanço de branco ser mais “correto” isso fez com que se acabasse o clima de pôr do sol. Na foto 8 o ajuste é para lâmpada fluorescente, note o tom mais violeta do céu. Esse efeito é particularmente interessante quando se tem muitas nuvens ao redor do sol no momento do pôr do sol ou quando o sol já se pôs. Na foto 9 o ajuste é para flash, note-se que os tons são os mesmo da foto 4 que é para luz do sol.



Foto 3 - Balanço de branco ajustado no automático


Foto 4 - Balanço de branco ajustado para luz do sol




Foto 5 - Balanço de branco ajustado para dia nublado




Foto 6 - Balanço de branco ajustado para sombra




Foto 7 - Balanço de branco ajustado para lâmpada incandescente




Foto 8 - Balanço de branco ajustado para lâmpada fluorescente




Foto 9 - Balanço de branco ajustado para flash




Nos exemplos acima não dá para dizermos se têm certo ou errado na escolha do balanço de branco pois é um questão de gosto pessoal e da intenção de quem tirou a foto.


Gerhard muito obrigada pelo excelente artigo!


Agradecemos as visitas e comentários.

9 comentários:

Anônimo disse...

Cacau, que prendado este seu maridão, adorei as dicas!
Vou tentar fazer melhores fotos dos projetos em cardstock branco. Faço bastante e nunca consegui fotos boas, as cores ficam sempre diferentes da realidade.
Obrigado ao Gerhard!

SIBELE disse...

Gerhard, seu conhecimento em fotografia é impressionante!!
Obrigada por compartilhar isso com a gente!

PATRÍCIA RIOS disse...

Adorei as dicas, ou melhor, uma super aula!!!
Adoro ir sábado a tarde aos parques e ficar mexendo nas funções da minha máquina... com certeza vou anotar pra fazer uma experiência com minhas fotos...
Obrigada pela aula!!!
Bjs Pati Rios

Julia Cotrim disse...

Um espetáculo essa matéria!
Parabéns!
Adorei!

Beijos

Lu Zischler disse...

Adorei!! Depois de muito custo, deixei a preguiça de lado e comecei a fuçar mais nas funções da máquina do Ricardo. Já tentei fotografar uns LO na função Tungstênio e Incandescente, quando fui fazer a foto à noite, e mesmo assim saiu com as cores bem diferentes do real... Não gostei não... :(
Obrigada pela aula!

Karine Morais Balabuch disse...

Que super aula!!!! Adorei...
Obrigada Gerhard pela sua maravilhosa contruibuição no nosso blog!!!

Leticia Pereira disse...

Gerhard, adorei suas explicações!
Novamente agraddecemos sua contribuição com o nosso blog!

Maya disse...

Uau Gerhard!! Valeu pela dica valiosissima!!!!!!
Vou treinar na minha camera!!!!!!
Mto obrigada!

Anônimo disse...

Olá, obrigado pelas suas valiosas dicas! Tenho um grande problema em fotos still com peças plásticas translúcidas, em um estúdio feito artesanalmente, com lâmpadas econômicas - a imagem parece que se perde, cai sensivelmente a definição da imagem - o que acontece? Vcs podem me ajudar?